Ser membro de uma família empresária e trabalhar na empresa de familiar, pode parecer para muitas pessoas de fora dos negócios um certo privilégio, mas a realidade de quem pertence e trabalha com sua família é bem diferente. Viver os dilemas e os desafios de uma empresa familiar chega a ser desgastante e até mesmo estressante. Em muitas ocasiões, os herdeiros precisam provar sua competência, e que não estão lá por serem filhos do dono. 

Por mais de vinte anos trabalhei com minha família e tive a oportunidade de aprender os valores e cultura dos negócios; por outro lado, também senti o peso e a responsabilidade de carregar meu sobrenome. Trabalhar nos negócios da minha família foi um desafio em tanto. Pude entender as dores de muitos jovens e herdeiros, que decidiram trocar suas carreiras como profissionais e trabalharem com sua família.

Para compreender melhor os dilemas que muitos jovens herdeiros enfrentam, decidi realizar recentemente uma pesquisa para analisar o perfil de diversos sucessores nas empresas familiares, e pude diagnosticar que muitos deles estavam desgastados ou em conflito com sua família. O teste “Qual o seu perfil de Sucessor?”, como é chamado, foi desenvolvido por mim, em parceria com o Fórum Brasileiro da Família Empresária-FBFE, e tem como objetivo diagnosticar os perfis de futuros(as) sucessores(as) mais recorrentes em empresas familiares.

Trabalhar ou não na empresa de sua família? Qual a melhor decisão?

Vejamos dois exemplos:

Quando conheci Peter, ele acabava de cursar administração de empresas em uma das mais renomadas faculdades do país, e quando se formou resolveu trabalhar com seu pai, o qual ficou muito orgulhoso da decisão de seu filho. Pai e filho juntos nos negócios.  Peter, então, dá inicio a uma série de mudanças na empresa, todas fundadas nos aprendizados e estudos de caso que havia estudado na faculdade, mas com pouca experiência profissional, o resultado, na prática não agradou seu pai, que começou a boicotar as decisões do filho. Seu pai, Joseph, achava que Peter não tinha experiência profissional suficiente para tomar as decisões a nível gerencial, o que resultou em frustração para ambos. Como resultado, pai e filho estavam infelizes um com o outro, o que estava afetando a relação deles fora dos negócios.

No caso de John, que passou por um processo seletivo e foi trabalhar em uma multinacional, teve uma carreira meteórica e começou a ganhar muito dinheiro, chamando a atenção do seu pai, o convidando a trabalhar nos negócios da família. John já havia passado por diversas áreas dentro da multinacional antes de começar a trabalhar com seu pai, e veio com mais bagagem empresarial, elevando o nível de respeito na relação pai-filho/empregador-funcionário. John não levava para o lado pessoal quando seu pai o chamava a atenção e vice-versa. Seu pai também não se sentia ameaçado quando John tomava decisões sem consulta-lo, o que criou uma relação de amizade e respeito.

Recentes pesquisas apontam que as melhores práticas de governança familiar recomendam que jovens herdeiros, antes de começarem a trabalhar na empresa de sua família, tenham além de uma boa formação, pelo menos de dois a três anos de experiência profissional fora da empresa familiar. Ganhar “musculatura” e repertório para enfrentar os desafios e realidade de uma empresa familiar é essencial e vital para os negócios familiares. 

Trabalhar com a família pode ser gratificante ou desgastante. Entre ser um prazer ou um martírio, dependerá das escolhas de cada um, não ser influenciado pelas decisões de seus pais ao terem que escolher seu próprio destino. Ser o protagonista de sua própria história pode parecer difícil, por isso quando você for escrever a história de sua vida, não deixe ninguém segurar a caneta por você”.

Nelson Cury Filho é especialista no desenvolvimento da família empresária, consultor na Cedar Tree Family Business Advisors, mentor, autor do livro: “Sucessão ou Morte da Empresa Familiar” e fundador do Fórum Brasileiro da Família Empresária – FBFE.

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