Sucessão Familiar: Por que ainda é um tema tão nevrálgico e difícil de lidar?
Uma discussão que vem se perpetuando, há séculos, desde a Grécia antiga onde Hesíodo (750-650 a.C) narra na Teogonia (A origem dos Deuses), o enlace entre Urano (o Céu) e Gea (a Terra). Nasce desse relacionamento, a primeira geração de Titãs, tendo como filho mais novo Cronos (o tempo). Vendo seus filhos se desenvolverem, Urano com medo de perder seu posto, pede que Gea sua esposa que engula seus filhos e deixe-os presos nas profundezas de seu útero.
Gea não concordando com a atitude de Urano, une-se ao filho Cronos e “castram” seu pai. Da separação da Terra (Gea) e do Céu (Urano), o tempo (Cronos) toma espaço. A disputa pelo poder entre pais e filhos não para por aí. Na terceira geração dos Deuses gregos, Zeus, o filho de Cronos, vence o pai e se torna o soberano.
A narrativa da mitologia grega evidencia um desafio crucial da sucessão na empresa familiar (Urano impede a mudança) e repetição de padrão (Cronos repete o comportamento de seu pai Urano). Já o equilibrado Zeus divide o poder, sem no entanto, deixar de ser o senhor do Olimpo. Daí um importante aprendizado: para que haja justiça (divisão justa das coisas), é preciso que todos e todas estejam incluídos e tenham uma voz.
Tudo isso para falar de Succession, essa super série que está passando no HBO. A série concorre a 5 Grammy’s e disseca profundamente a psicodinâmica entre fundador e sucessores. A história se passa em Nova York, onde Logan é fundador de um conglomerado milionário de mídia e comunicação.
A segunda temporada da trama está ainda melhor e conta com diálogos bem construídos, inteligentes que vão deixar você sem dormir. Logan tem quase seus 80 anos, está no segundo casamento e tem 04 filhos. O fundador consegue manipular sua prole, plantando a discórdia entre os irmãos, semeando a disputa nada ética pelo poder e manipulando os filhos com generosos presentes, muito dinheiro e cargos que eles nunca assumiram.
Seguir seu próprio caminho, ser autor da sua própria história, ser protagonista do livro de sua vida, não é uma missão para fracos. É muito difícil se desvencilhar das amarras emocionais e materiais. Apenas buscando sua verdadeira vocação e seu propósito, você estará apto para viver uma vida com significado.
Por Nelson Cury Filho, fundador do Fórum Brasileiro da Família Empresária-FBFE e especialista no desenvolvimento da Família Empresária.
