Nelson Cury Filho, fundador do FBFE, Fórum Brasileiro da Família Empresária, especialista em Governança Familiar fez a abertura do FBFE Belo Horizonte 2022 que contou também com palestrantes de peso como Pedro Lerias da Carpa Family Office; Michel Lam da Red House; Ciro Aliperto da SFA (Seeking for Alpha) e Renato Abissamra da Spectra Investments.
Nelson contou que desde a fundação do FBFE a maior preocupação do Fórum Brasileiro da Família Empresária era trazer para o seu público-alvo o que havia de mais relevante no universo do Family Business. Por meio dos eventos como o de Belo Horizonte, que têm uma curadoria impecável, são promovidos relacionamentos entre as famílias, troca de experiências e muito aprendizado por meio do olhar do outro.
“Promovemos também oportunidades de co-investimento entre as famílias, além de acesso a deal flows exclusivos”, pontua Nelson. Segundo ele, um dos pilares do FBFE é a governança, educação e capacitação das novas gerações, sem a qual o futuro das organizações familiares ficaria comprometido.
“Para ser um bom acionista hoje, não basta ter apenas uma boa formação acadêmica. É necessário ter experiência fora do âmbito familiar e dos negócios. É preciso viver fora da bolha, sair da gaiola de ouro, conhecer o mundo como ele é, ganhar musculatura e vivência. Só assim, herdeiros acionistas poderão ser protagonistas de suas próprias histórias e contribuir de forma construtiva para a continuidade da governança e do legado familiar”, ensina Nelson.
O objetivo de um evento como o do Family Business Investment 2022 é o de trazer mais conteúdo sobre governança, gestão de patrimônio, investimentos alternativos, oportunidades de negócios e mostrar como as famílias possam vir a ter um olhar mais apurado sobre o seu patrimônio, além dos negócios.
“É muito comum os acionistas focarem muito no dia a dia e nos resultados dos negócios e esquecerem de ter um olhar mais técnico e profissional para a gestão de seu patrimônio, que pode, muitas vezes, se tornar maior que o negócio principal da família. Acreditamos que cuidar do patrimônio é uma forma de perpetuar o legado das famílias empresárias, já que as organizações possuem um clico de vida e podem acabar um dia”, declara ele.
“As famílias mineiras têm caraterísticas culturais próprias, diferentes de outras partes do Brasil. Elas gostam de fazer negócios, são muito trabalhadoras e possuem um jeitinho mineiro, — mais discretos e, algumas vezes, desconfiado — de ser. Por isso levar conhecimento de ponta, promover a troca de experiência entre elas, é uma experiência muito enriquecedora, afirma Nelson.
E como se faz uma boa gestão de patrimônio? Nelson elencou algumas dicas como procurar um bom assessor financeiro que ajudará primeiro com a criação de uma estratégia e os objetivos da família a longo prazo, além de pensar como manter o padrão e o patrimônio ao longo das gerações.
“É importante saber se irão ficar juntos ou separados e quem irá fazer a gestão dos ativos. Se será a família a estruturar seu próprio Family Office ou se irá terceirizar com por meio de um Multifamily Office. Uma coisa é certa; deve-se procurar com certeza uma casa financeira, banco ou assessor que ajudará a família a tomar melhores decisões de investimento sem víeis ou conflito de interesses”, declara.
E com o empresário consegue tirar o foco apenas do dia a dia do negócio e dar a devida atenção a gestão do patrimônio? Segundo Nelson, a dica é profissionalizando a família e os negócios; focando maior tempo em um planejamento mais estratégico do que operacional.
“As famílias brasileiras proprietárias de negócios geralmente são muito boas na operação e entendem profundamente do ramo e atividade de seus negócios, mas acabam pecando muitas vezes por não concentrarem esforços na construção de uma visão de longo prazo”, conta. Isso deve-se ao fato do Brasil ser um país difícil de se fazer um planejamento com horizonte de 5 a 10 anos.
As políticas econômicas sofrem muito com as transições dos governos e isso dificulta os empresários terem essa cultura de longo prazo. Todavia, para se ter uma boa gestão de patrimônio se exige uma boa dose de paciência e visão de longo prazo.
Embora o Brasil tenha essas características difíceis de enfrentar no dia a dia, é um país que sempre anda na contramão da história e, hoje, se compararmos a economia do Brasil com o mundo, ela está em melhor condições apresentando queda nos índices de inflação e PIB com viés de alta. O Brasil sempre foi uma potência adormecida. Quando tem políticas públicas claras, transmite mais transparência para os empresários e investidores. “Acredito que dependendo das urnas entraremos em um ciclo forte de crescimento”, aponta Nelson.
Nelson descreveu ainda a forma como um Family Office deve ser montado. “Mais conhecido como escritório da família, pode, no início, ser apenas um espaço para família discutir sobre ativos, patrimônio, investimentos e educação das próximas gerações “, descreve. Segundo ele, quando as demandas em termos de estrutura ficam mais complexas, como separar os ativos não operacionais e patrimoniais do negócio, se faz necessário a criação de Holdings patrimoniais.
Deve-se estudar os impactos fiscais de famílias que possuem filhos ou bens no exterior para não incorrer em tributações extras e, para isso, existem instrumentos como a utilização de um “Trust” ou mesmo a criação de fundações. Mas, o mais comum é a criação de Holdings patrimoniais para a família ou para cada núcleo dependendo da complexidade e sofisticação dos ativos.
Ao se criar esse tipo de estrutura jurídica, o outro passo é ter sistemas de controle, centros de custos por familiar, uso em comum do patrimônio, como casa de praia, fazenda, avião, barcos, entre outros. Isso costuma dar muito trabalho para controlar e, sem regras claras, pode gerar discussões entre os familiares. É o que são chamados de serviços de concierge, ou seja, dependendo do tamanho e complexidade da família, o Family Office é mais ou menos sofisticado.
E como fazer a família ficar unida?  Segundo Nelson, a transmissão de valores é o pilar de sustentação da família no longo prazo. Sem alinhar a família pelo mesmo propósito, fica difícil conseguir perpetuar o legado. Essa conexão, a cola que une todos os familiares deve ser feita de amor, afeto e, principalmente, de respeito.
“Costumo dizer que a família deve estar unida pelos laços e pelo orgulho de pertencerem a uma estrutura que, na maioria das vezes, criou uma fortuna do zero. Transmitir as histórias dos antepassados, daqueles que construíram um legado, é muito importante para as futuras gerações entenderem de onde vieram. Uma família unida e alinhada consegue superar crises, já o contrário não”, conclui Nelson
É interessante notar que, geralmente, os fundadores possuem muito apego pelo poder e têm dificuldade de passar o bastão e preparar o seu sucessor. Esse controle excessivo gera um ambiente hostil e de competitividade entre todos. E para evitar isso, é preciso iniciar um processo e implantação da Governança Familiar onde são criadas regras de quem possui talento, vocação e capacitação para trabalhar na empresa ou mesmo suceder o fundador.
Com transparência, regras definidas e um acompanhamento de uma boa consultoria em Governança, se evita muitos ruídos e falha de comunicação. Esse processo gera responsabilidade e os membros são todos incluídos, e se sentem parte do processo de construção de uma solução em prol do que é melhor para a família e para a empresa.

“Quando os membros familiares são tratados de forma justa e respeitosa, o clima é de harmonia e união”, finaliza Nelson.

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