Neste momento de isolamento social, o resgate de nossos valores e de nossas origens nunca teve tamanho significado em nossas vidas. O sofrimento trazido pela pandemia nos forçou a olhar com mais atenção para o próximo e a nos reabituar à convivência com nossos familiares. Retomamos valores e hábitos de vida que faziam parte de nosso cotidiano décadas atrás, mas que estavam completamente esquecidos ou adormecidos pelo frenesi e ritmo acelerado aos quais estamos submetidos no dia a dia. 

O ambiente familiar durante a pandemia ganhou ainda mais importância. Quem não arrisca afirmar que durante essa pandemia está conversando mais com parentes? Esse convívio mais próximo trouxe como consequência a valorização da família, alicerce de nossos aprendizados e de quem somos, de nossa personalidade e de nosso caráter; é ali que aprendemos os valores morais e sociais, fundamentais para o processo de socialização de nossas crianças, bem como as tradições e os costumes perpetuados de geração em geração.

Tais pensamentos me fazem retornar às minhas raízes. Uma oportunidade para entender verdadeiramente o sentido da palavra maktub, que, em árabe, significa “já estava escrito” ou “tinha que acontecer”.  Quatro anos atrás, voltei à terra de meus ancestrais, o Líbano. 

Conheci a casa onde meu avô paterno nasceu, localizada na cidade de Anfeh, no norte do país. Construída há mais de 500 anos, estava preservada e intacta, evidenciando a base e a solidez de uma das famílias mais antigas do Líbano. Visitei Beirute, a capital, Byblos, uma das mais antigas cidades do mundo e berço da escrita moderna, e Baalbek, que abriga as ruínas de um dos maiores templos romanos. 

Nunca imaginei tamanha beleza e grandiosidade em um único país com somente 10.452 km de extensão e que possui mais de oito mil anos de história. O Líbano foi palco de 17 civilizações, guerras e conquistas, religiões cristãs, muçulmanas e judaicas. Todas convivendo em um só país. 

Nessa viagem ao tempo e às minhas raízes, também entendi de onde vieram minha família, meus valores e minha tradição. Os Khoury (Cury), de Anfeh, foram padres ortodoxos por mais de cinco gerações. Não tenho como descrever tamanha emoção e a saudade que sinto desde então. Quero voltar um dia para escrever um livro sobre essas memórias.

Somente entendendo de onde viemos e quais são nossos valores, podemos transmitir às próximas gerações o orgulho de nossa família. Estarmos conectados ao nosso propósito, que nos fortalece para continuar olhando para frente com entusiasmo e para sermos mais resilientes.

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