E lá se foram 40 dias, de quarentena, da quaresma, durante os quais, mesmo tentando aplacar a inquietude e manter uma rotina, a reflexão sobre o que estamos vivendo é permanente. A certeza de que este é um verdadeiro teste para todos nós seres humanos, pais de família e empresários e de que estamos todos no mesmo barco parecia uma unanimidade. Até que aparece na tela um texto de autoria desconhecida, repassado numa rede social, cujo título diz: “Não estamos no mesmo barco… Estamos na mesma tempestade, mas não no mesmo barco. Seu navio pode ter naufragado e o meu, não. Ou vice-versa”. 

O autor, então, enumera uma série de situações que diferenciam uns dos outros. Diz que para alguns, a quarentena é um momento de reflexão, de reconexão consigo mesmos, tempo de descanso, férias, paz. No entanto, para outros, é motivo de desespero, de solidão, de preocupação com as contas a pagar, com a comida para os próximos dias. Uns trabalhando em seus home offices e outros, cujo trabalho não pode ser feito em casa, querendo voltar a trabalhar para garantir o sustento. Uns, com fé, esperam um milagre e outros, esperam o pior. Para concluir por fim que “estamos passando por um momento em que nossas percepções e necessidades são completamente diferentes. E cada um emergirá, à sua maneira, dessa tempestade”.

Imediatamente, me pus a pensar no meu barco e no caminho que ele vem percorrendo. Nos primeiros dias da quarentena, ficou ancorado em São Paulo. Diante do medo do incerto, do ruído interno, da angústia e da situação inusitada que parecia ter feito a terra parar, senti-me impotente, como se tivesse perdido o controle da situação. Divergência de opiniões nos grupos de WhatsApp e notícias truncadas sobre a pandemia aceleraram os meus batimentos cardíacos. Precisava com urgência encontrar um refúgio.

Respirei fundo e, no íntimo, lembrei que nos momentos mais difíceis da vida, o refúgio foi voltar às raízes. Meu barco zarpou para o interior, do  Estado, não do meu ser. Rumo à fazenda centenária, propriedade da família, que já resistiu a inúmeras crises e abriga a árvore mais antiga do Brasil, um Jequitibá Rosa de aproximadamente 2.500 anos de vida!

Quantas ventanias, tempestades e crises essa Cariniana legalis já enfrentou! E com suas raízes profundas que sustentam os 48 metros de altura e os 12,5 metros de circunferência, equivalente a um prédio de 20 andares, lá estava ele sólido, intacto.  Ao contemplá-lo, percebi que precisava ser como o Jequitibá, robusto e forte o suficiente para atravessar mais essa crise e sair dela fortalecido. 

Com meu barco por lá ancorado, após duas semanas desfrutando do silêncio, do canto dos pássaros, do amanhecer e do entardecer e do cheiro da terra, a sensação de poder e de querer estar no controle de tudo havia sido substituída pela sensação de prazer, de estar vivo. Relaxei e, por fim, consegui recuperar o foco e a paz de espírito necessários para continuar navegando por esse oceano desconhecido.

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