O recente artigo publicado pela Revista The Economist sobre a entrevista do Príncipe Harry e sua esposa Meghan, causou bastante polêmica dividindo a opinião pública e de países como EUA e o Reino Unido.

Questões como tratamento diferenciado entre os membros da corte, racismo e até pensamento suicida foram trazidos à tona, expondo mais uma vez a Família Real inglesa que divulgou em seguida uma nota esclarecedora.

Em um dos trechos que diz: “the issues raised, particularly of race, are concerning…they will be addressed by the family privately” o palácio expressa a preocupação dos pontos citados na entrevista, mencionando que o assunto seria tratado em particular pela família.

Assuntos de caráter pessoal, como casamento, regime de bens, divórcio, brigas entre membros familiares, entre outros que atingem o nome da família, devem ser tratados dentro de um fórum específico. Como por exemplo tratar temas nevrálgicos como esse dentro do Conselho de Família ou COFA, como é conhecido.

No universo do Family Business, ferramentas como instituir um Conselho de Família, regras de conduta, código de ética e um regulamento de direitos e obrigações, são ferramentas aconselháveis como melhores práticas de governança. Ajudam a mitigar e resolver conflitos familiares dentro do âmbito familiar sem expor a família e os negócios.

A entrevista concedida por Harry e Meghan ao programa da Oprah, chamada “Megxit” pela imprensa, abriu uma fratura exposta que a Família Real Britânica terá que enfrentar: “a sucessão da rainha Elizabeth”. Talvez um dos assuntos mais difíceis a ser encarado pela dinastia Windsor. 

Manter a tradição do filho mais velho de assumir o poder e os outros membros terem um papel secundário, pode estar causando um dano nocivo e permanente à família real. 

Será necessário nesse momento de transição, trazer os assuntos cruciais para a mesa e dialogar com transparência. Por mais delicado que seja o tema, a melhor solução é enfrentar os problemas do que tentar jogar para debaixo do tapete.

O episódio “Megxit” poderia talvez ter sido evitado se houvesse boa comunicação, regras claras e tratamento igualitário para todos os membros. 

Ficou evidente a insatisfação do casal com o tratamento dado a eles pela instituição, citado inúmeras vezes pela cônjuge durante a entrevista.

Tratar esses assuntos delicados não é fácil nem agradável, mas necessário, ainda mais quando se trata da entrada de novos(as) membros(as) na família, como foi o caso de Meghan que se sentiu isolada dentro das relações palacianas. 

Faltou um ambiente seguro para os membros familiares exporem suas ideias, serem ouvidos e ampliarem sua voz. Frustrações que poderiam ter sido discutidas dentro do Conselho de Família. Por isso sua importância e contribuição para tornar as relações familiares mais harmoniosas, coesas e equilibradas. 

Com uma comunicação respeitosa fica mais fácil alinhar os objetivos da organização e pensar numa transição entre gerações. Uma forma eficiente de assegurar o legado, valores e princípios que norteiam a família e os negócios.

A estrutura do COFA facilita a comunicação, evitando que problemas privados dos membros assumam grandes proporções, esgarçando as relações familiares e, em última instância, ameaçando a sobrevivência do negócio.

Por mais traumático e doloroso que seja, é importante respeitar as relações familiares, buscar a conciliação de interesses e desejos da família para que a mesma possa alcançar a longevidade e perenidade do legado. Independente do nome e sobrenome, a sobrevivência da família depende de relações equilibradas.

Nelson Cury Filho é especialista no desenvolvimento da família empresária, consultor na Cedar Tree Family Business Advisors, sócio da Consilium Family Office Advisors, mentor, autor do livro: “Sucessão ou Morte da Empresa Familiar” e fundador do Fórum Brasileiro da Família Empresária – FBFE. 

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