Vivemos em ciclos, nos quais a cada nova etapa deparamos com diferentes situações e problemas. Enfrentá-los nos faz desenvolver novas habilidades e estar melhor preparados para a fase seguinte. Os ciclos se sucedem em diferentes dimensões, na economia, no clima, na agricultura, nos negócios e em nossa vida. 

Na esfera pessoal, de acordo com a antroposofia, conceito criado pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner, e com a medicina tradicional chinesa, nossa formação e evolução como seres humanos segue a teoria dos setênios. Ela divide a nossa existência em ciclos de sete anos, que são o período de tempo necessário para absorver todo um conjunto de conhecimentos e, então, partir para um novo ciclo de mudanças e transformações.

De acordo com esta teoria, nossa vida, do nascimento aos 70 anos, é dividida em dez fases principais, nas quais desenvolvemos determinadas habilidades. Eu, que em junho completei 49 anos, inicío meu oitavo setênio entrando num novo período de aprendizado no qual o foco é ouvir o mundo e alinhar vida e pensamento. 

Cada fase é caracterizada por mudanças biológicas e espirituais. A primeira delas, do nascimento aos 7 anos, tem ênfase no desenvolvimento físico, depois vem a fase da percepção de si e da autoridade do outro, a da puberdade e formação de identidade, da independência, da crise existencial e assim por diante até chegarmos ao décimo setênio, caracterizado pela sabedoria ou fase do mestre, como também é chamado. Elaborada a partir da observação dos ritmos da natureza no que diz respeito ao sentido da vida, a teoria prega que ao respeitar o ritmo de cada setênio, chegaremos aos 70 anos com a consciência e sabedoria necessárias para uma vida plena com boa saúde e lucidez. 

Mas o desenvolvimento em ciclos não se restringe à nossa evolução pessoal. A teoria dos ciclos de vida das organizações, desenvolvida pelo professor e consultor Dr. Ichak Adizes, o qual tive o prazer de realizar um webinar com seu filho e sucessor Shoham Adizes, se baseia no princípio fundamental de que, assim como os organismos vivos, as empresas têm um ciclo de vida com padrões que se repetem a cada período. A cada novo estágio de desenvolvimento, a organização enfrenta um conjunto único de desafios. A forma como esses assuntos e mudanças são tratados determina o sucesso ou o fracasso da organização. Segundo o autor, “viver significa resolver problemas ininterruptamente. Quanto mais plena for a vida, mais complexos os problemas a serem resolvidos. O mesmo se aplica às organizações.”

No caso das empresas, a teoria divide os diversos estágios de crescimento em: infância, na qual o maior desafio é a necessidade de dinheiro, de capital de giro e o compromisso e amor do fundador pelos negócios; pré-adolescência (Toca-Toca), nesta etapa há uma enorme tentação em entrar em novos negócios com o risco de perder o foco no “core business”, fazendo uma gestão baseada na intuição e sem delegar poder; adolescência, fase em que a empresa está em crescimento e demanda mudança na liderança e busca de profissionalização, uma situação que gera conflitos e pode causar brigas internas entre os sócios ou membros da família; plenitude, é quando a empresa está em equilíbrio e o desafio é manter o autocontrole e espírito empreendedor; estabilidade, é o período que caracteriza  início do envelhecimento da empresa e a necessidade de foco na recuperação da criatividade, inovação e no incentivo a mudanças; aristocracia, neste ponto, o líder precisa voltar sua atenção para as decisões essenciais, reaprender a disputar espaço com seus concorrentes e identificar qual é seu negócio principal e que gera mais lucro; pré-burocracia, em declínio, a empresa entra em paranoia gerencial, os maus resultados se tornam evidentes gerando disputas internas entre as lideranças que criam feudos na tentativa de sobreviver a qualquer custo, é a hora de substituir as pessoas ineficazes e buscar um líder capaz de assumir o controle; e, por fim, chegamos à fase da burocracia e morte, quando não há mais inovação e mudança, a organização deixa de reagir ao meio e a liderança não é capaz de mudar o sistema organizacional e solucionar os problemas.

Como as organizações, amadurecemos de um modo único, transitando de setênio em setênio, vivendo e experimentando as dores de crescimento enfrentadas no decorrer de nossa jornada e aprendendo a cada crise de forma a superar com mais facilidade o obstáculo seguinte. Compreender cada ciclo de nossas vidas, assim como os das organizações, é fundamental para aprendermos cada vez mais sobre nós mesmos e sobre o outro. Isso nos possibilita traçar o caminho para nossa realização pessoal e gerir melhor nossos negócios. Basta estar vivo e saber aproveitar cada fase com sabedoria. Desfrutem a jornada.

Artigo escrito por Nelson Cury Filho, especialista no desenvolvimento da família empresária, consultor na Cedar Tree Family Business Advisors, mentor, mediador, autor do livro: ”Sucessão ou Morte da Empresa Familiar” e fundador do Fórum Brasileiro da Família Empresária-FBFE.

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